segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Christmas Evans - "O João Bunyan de Gales"



(1766 – 1838)


Seus pais deram-lhe o nome de Christmas porque nasceu no dia de Natal (Christmas, em inglês), em 1766. O povo deu-lhe a alcunha de “pregador caolho”, porque era cego de um olho. Alguém assim se referiu a Christmas Evans: “Era o mais alto dos homens, de maior força física e o mais corpulento que jamais vi. Tinha um olho só; se há razão para dizer que era olho, pois mais propriamente se pode dizer que era uma estrela luzente, brilhando como Vênus”. Foi chamado também o “João Bunyan de Gales”, por que era o pregador que, na historia desse país, desfrutava mais do poder do Espírito Santo. Em todo lugar onde pregava, havia grande numero de conversões. Seu dom de pregar era tão extraordinário que, com toda facilidade, podia levar um auditório de 15 a 20 mil pessoas, de temperamentos e sentimentos vários, a ouvi-lo com a mais profunda atenção. Nas igrejas, não cabiam as multidões que iam ouvi-lo durante o dia; à noite sempre pregava ao ar livre, sob o brilho das estrelas.



Durante a sua mocidade, viveu entregue à devassidão e à embriaguez. Numa luta, foi gravemente esfaqueado; outra vez foi tirado das águas como morto e, ainda doutra vez, caiu de uma árvore sobre uma faca. Nas contendas era sempre o campeão, até que, por fim, numa briga, seus companheiros cegaram-lhe um olho. Deus, contudo, fora misericordioso durante esse período, guardando-o com vida para, mais tarde, fazê-lo útil no seu serviço.

Com a idade de 17 anos, experimentou a graça da salvação. Aprendeu a ler e, não muito depois, foi chamado a pregar e separado para o ministério. Seus sermões eram secos e sem fruto até que, um dia, em viagem para Maentworg, segurou seu cavalo e entrou na mata, onde derramou a alma em oração a Deus. Como Jacó em Peniel, de lá não saiu antes de receber a benção divina. Depois daquele dia reconheceu a grande responsabilidade de sua obra; regozijava-se sempre em espírito de oração e surpreendeu-se grandemente com os frutos gloriosos que Deus começou a concede-lhe. Antes dessas coisas acontecerem, possuía dons e corpo de gigante; depois, porém, foi –lhe acrescentado o espírito de gigante. Era corajoso como um leão e humilde como cordeiro; não vivia para si, mas para Cristo. Além de ter, por natureza, uma mente ativa e uma maneira tocante de falar, tinha um coração que transbordava de amor para com Deus e o próximo. Verdadeiramente era uma luz que ardia e brilhava.

No sul de Gales andava a pé, pregando às vezes, cinco sermões num só dia. Apesar de não andar bem vestido e de possuir maneiras desastrosas, grandes multidões afluíam para ouvi-lo. Vivificado com o fogo celestial, “subia” em espírito como se tivesse asas de anjo e quase sempre levava o auditório consigo. Muitas vezes os ouvintes rompiam em choro e vivenciavam outras manifestações, coisas que não podiam evitar. Por isso eram conhecidos como “saltadores galeses”.



Era convicção de Evans que seria melhor evitar os dois extremos: o excesso de ardor e a frieza demasiada. Deus, porém, é um ser soberano e opera de varias maneiras. A alguns Ele atrai pelo amor, enquanto outros Ele espanta com os trovões do Sinai, para acharem preciosa paz em Cristo. Os vacilantes, às vezes, são por Deus sacudidos sobre o abismo da angustia eterna até clamarem pedindo misericórdia e acharem gozo indizível. O cálice desses transbordam até que alguns, não compreendendo, perguntam: “Por que tanto excesso?”


Acerca da censura que faziam aos cultos, Evans escreveu: “Admiro-me de que o gênio mau, chamando-se ‘o anjo da ordem’, queria experimentar tornar tudo, na adoração a Deus, em coisa tão seca como o monte Gilboa. Esses homens da ordem desejam que o orvalho caia e o sol brilhe sobre todas as suas flores, em todos os lugares, menos nos cultos ao Deus todo-poderoso. Nos teatros, nos bares e nas reuniões políticas, os homens comovem-se, entusiasmam-se e são tocados de fogo como qualquer “saltador galês”. Mas segundo eles desejam, não deve haver coisa alguma que dê vida e entusiasmo à religião! Irmãos, meditai nisto! Tendes razão ou estais errados?”

Conta-se que, em certo lugar, havia três pregadores para falar, sendo Evans o último. Era um dia de muito calor. Os primeiros dois sermões foram muito longos, de forma que todos os ouvintes ficaram indiferentes e quase exaustos. Porém, depois de Evans haver pregado cerca de quinze minutos sobre a misericórdia de Deus, tal qual se vê na parábola do filho prodigo, centenas dos que estavam sentados na relva, repentinamente, ficaram em pé. Alguns choravam e outros oravam, sob grande angústia. Foi impossível continuar o sermão: o povo continuou a chorar e a orar durante o dia inteiro, e de noite até o amanhecer.



Na ilha de Anglesey, porém, Evans teve de enfrentar certa doutrina chefiada por um orador eloqüente e instruído. Na luta contra o erro dessa seita (1), começou a esfriar espiritualmente. Depois de alguns anos (2), não mais possuía o espírito de oração e o gozo da vida cristã. Mas ele mesmo descreveu como buscou e recebeu de novo a unção do poder divino que fez a sua alma abrasar-se ainda mais do que antes:
Não podia continuar com o meu coração frio para com Cristo, sua expiação e a obra de seu Espírito. Não suportava o coração frio no púlpito, na oração particular e no estudo, especialmente quando me lembrava de que durante quinze anos o meu coração se abrasava como se eu andasse com Jesus no caminho de Emaús. Chegou o dia, por fim, que nunca mais esquecerei. Na estrada de Dolgelly, senti-me obrigado a orar, apesar de ter o coração endurecido e carnal. Depois de começar a suplicar, senti como que pesados grilhões me caíssem e como que montanhas de gelo se derretessem dentro de mim. Com esta manifestação, aumentou em mim a certeza de ter recebido a promessa do Espírito Santo. Parecia-me que meu espírito inteiro fora solto de uma prisão prolongada, ou como se estivesse saindo do túmulo num inverno muitíssimo frio. Correram-me abundantemente as lágrimas e fui constrangido a clamar e pedir a Deus o gozo da sua salvação, e que Ele visitasse, de novo, as igrejas de Anglesey que estavam sob meus cuidados. Tudo entreguei nas mãos de Cristo... No culto seguinte, senti-me como que removido da região estéril e frígida de gelo espiritual para as terras agradáveis das promessas de Deus. Recomecei, então, os primeiros combates em oração, sentido um forte anelo pela conversão de pecadores, tal como tinha sentido em Leyn. Apoderei-me da promessa de Deus. O resultado foi que vi, ao voltar a casa, o Espírito operar nos irmãos de Anglesey, dando-lhes o espírito de oração com importunação.





O grande avivamento vivido pelo pregador contagiou o povo em todos os lugares da ilha de Anglesey e em todo o principado de Gales. A convicção de pecado, como grandes enchentes, passava sobre os auditórios. O poder do Espírito Santo operava até o povo chorar e dançar de alegria. Um dos que assistiam o seu famoso sermão sobre o endemoninhado gadareno conta que Evans retratou tão fielmente a cena do livramento do pobre endemoninhado, a admiração do povo ao vê-lo liberto, o gozo da esposa e dos filhos quando voltou a casa, curado, que o auditório rompeu em grande riso e choro. Alguém assim se expressou: “O lugar tornou-se um verdadeiro Boquim de Choro (Jz 2.1-5). Outro ainda disse que o auditório ficou como os habitantes de uma cidade abalada por um terremoto, correndo para fora, prostrando-se em terra e clamando a Deus.



Não semeava pouco, portanto colhia abundantemente. Ao ver a abundancia da colheita, sentia seu zelo arder de novo, seu amor aumentar, e era levado a trabalhar ainda mais. A sua firme convicção era de que nem a melhor pessoa pode salvar-se sem a operação do Espírito Santo e nem o coração mais rebelde pode resistir ao poder do mesmo Espírito. Evans sempre tinha um alvo quando lutava em oração: Firmava-se nas promessas de Deus, suplicando coma persistência de que não pode desistir antes de receber. Dizia que a parte mais gloriosa do ministério do pregador era o fato de agradecer a Deus pela operação do Espírito Santo na conversão dos pecadores.





Como vigia fiel, não podia pensar em dormir enquanto a cidade se incendiava. Humilhava-se perante Deus, agonizando pela salvação de pecadores, e de boa vontade gastou suas forças físicas e mentais na fala de seu ultimo sermão – sob o poder de Deus, como de costume. Ao findar disse: “Este é meu último sermão”. Os irmãos entenderam que se referira ao último sermão naquele lugar. Caiu doente, porém, na mesma noite. Na hora da sua morte, três dias depois, dirigiu-se ao pastor, seu hospedeiro, com estas palavras: “O meu gozo e consolação é que, depois de me ocupar na obra do santuário durante cinqüenta e três anos, nunca me faltou ‘sangue na bacia’. Prega Cristo ao povo”. Então, depois de cantar um hino, disse: “Adeus! Adeus!” E faleceu.
A morte de Christmas Evans foi um dos eventos mais solenes de toda a história do principado de Gales. Houve choro e pranto no país inteiro.





O fogo do Espírito Santo fez os sermões desse servo de Deus abrasar de tal forma os corações, que o povo da sua geração não podia ouvir pronunciar o nome de Christmas Evans sem ter uma lembrança vivida do Filho de Maria na manjedoura de Belém; do seu batismo no Jordão; do jardim do Getsêmani; do tribunal de Pilatos; da coroa de espinhos; do monte Calvário; do Filho de Deus imolado no altar, e do fogo santo que consumia todos os holocaustos, desde os dias de Abel até o dia memorável em que esse fogo foi apagado pelo sangue do Cordeiro de Deus.

Postado por Flávio Teodoro
Fonte: Livro Heróis da Fé / p. 89 – 93. Autor: Orlando Boyer / Editora: CPAD
Foto Extraída do site da wikipedia (http://en.wikipedia.org/wiki/Christmas_Evans)

NOTAS:
1. Heresia intitulada “sandemanianismo” que negava a relação existente das emoções e ações da vontade da verdadeira fé salvadora. Essas emoções e ações da vontade poderiam ou não acompanhar a verdadeira fé salvadora, segundo seus defensores. Os defensores dessa aberração afirmavam que somente a fé intelectual era necessária para a salvação. Essa seita começou com um escocês que se chamava John Glas em 1720 e recebeu o nome de sandemanianismo devido o genro de John Glas (Robert Sandeman) ter sido o seu principal propagador.
Christmas Evans não somente lutou contra essa heresia como também foi convencido pela mesma, por isso se deu o seu esfriamento espiritual.
Fonte: Puritanos: suas origens e seus sucessores Editora PES – Autor: D. M. Lloyd Jones - Conferencia Nº 9 do ano de 1967 – titulo “Sandemanianismo” p. 181 – 201.

2. Christmas Evans “esteve debaixo daquele enregelante ensaio do sandemanianismo durante cerca de cinco anos”.
Fonte: Puritanos: suas origens e seus sucessores Editora PES - Autor: D. M. Lloyd Jones. p. 199.

3 comentários:

Anônimo disse...
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
Anônimo disse...
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
Anônimo disse...
Este comentário foi removido por um administrador do blog.